Ele era pra mim, como uma ponte era pra um
forasteiro. Ele era uma passagem inevitável e que por fim, me guiaria até o meu
destino final. Mas nem sempre pensei assim. Nem sempre o vi como algo passageiro.
No começo, pensei nele como um acompanhante.
Alguém que estava disposto a me seguir. A me amar. E a amar o caminho tanto
quanto eu o amava.
Lembro-me de olhá-lo nos olhos, observá-lo
enquanto fazia as coisas que mais adorava. Era uma sensação extasiante. Ele era
muito mais do que um cara como outro qualquer. Pra mim, ele era um lembrete
vivo do amor que, um dia, poderia ser meu. Do amor que eu poderia vir a
merecer.
Ele era como um céu estrelado em Maio, como uma
tarde fria em um verão de muito calor, ele era tudo e nada ao mesmo tempo. E
isso me matava. Era difícil ter esperanças de que o meu nada, acordaria
sentindo-se como o tudo. Eu estava apaixonada. Apaixonada por uma ponte em
ruínas.
Por vezes, senti o chão sobre os meus pés
vacilar. Eu sabia que estava prestes a cair, sabia que se não me forçasse a
cruzá-la, minha ponte me deixaria afundar num rio sinuoso. Eu não queria ir.
Não queria deixa-lo. Se meu caminho de pedras antigas desmoronasse, eu
desmoronaria com ele, se o meu amor estivesse prestes a entrar em colapso, eu
queria sentir tudo. As dores, as angustias, as noites mal dormidas e os dias
sem fome. Eu passaria por tudo só pra que ele ficasse ao meu lado.
Foi então que abri os olhos. No meio dos
tremores. No meio da chuva. No meio de tudo. Simplesmente os abri.
Me forcei a olhar pro outro lado, me forcei a
sobreviver. Meus instintos, egoístas e humanos, me mantiveram viva. Me fizeram
caminhar. Movi os pés como se carregasse metade do mundo nas costas, mas tudo o
que eu segurava, era o medo sombrio do desconhecido e a saudade, já dolorida,
de um abrigo confortável. Meus ombros doíam uma dor que não era nem física, nem
real.
Senti a terra gelada entrar em contato com meus
pés machucados. Olhei pra trás uma última vez e não o vi, pelo menos não como
costumava vê-lo. Ao invés de seu sorriso cauteloso, o vi levantar a voz sempre
que não concordávamos com alguma coisa. O vi mentir, por uma garota, duas,
três, por vergonha, por medo da desaprovação, por vontade própria.
A minha ponte não parecia segura, sequer
estável. Ela era um caos.
Mas o que me esperava do outro lado...
Então tive certeza. Certeza de que assim como
muitas outras passagens perigosas, ele era apenas mais uma das que me pareceram
seguras. Ele era só mais um pedaço do caminho.
Sorrindo de um jeito bobo, me dei conta de que
nunca tinha realmente me sentido segura perto dele.
Eu estava pronta pra novas passagens. Pra
pontes mais firmes e quem sabe, pro meu destino final... Quem sabe.
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