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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Um pouquinho da física do Destino...

Outro dia eu entrei no táxi correndo, duas mochilas nas costas e uma mala de rodinha em uma das mãos. Gritei, meio afobada, "pra rodoviária, moço!" e o cara me deu zero atenção. Quando consegui me acalmar um pouquinho e sentir o ar condicionado, não pude deixar de ouvir a conversa do taxista com a esposa.
- Aula particular? Eu não vou pagar pro Pedrinho ir pra aula particular! Eu já gasto uma fortuna com ele naquela escola! Que? Movimento circular? Mas por que é que esse menino precisa aprender isso? Eu nunca aprendi nada disso e olha só pra mim! Márcia, deixa de ser irônica, se você quer tanto que ele vá pra essa aula, paga você! Alô? Márcia?
Não consegui evitar sorrir. Era óbvio que o tal taxista ia dormir no sofá naquela noite.
- É mole? A gente paga uma grana nessas escolas particulares e ainda tem que pagar aula particular! Pra aprender física! Que materiazinha mais insignificante essa tal de física...
Concordei com um "é um absurdo mesmo" que foi tão verdadeiro quanto a vez em que eu disse pra minha mãe que morar sozinha não era sinônimo de dormir o dia todo. Na mesma hora, me lembrei do quanto eu costumava odiar a tal física na escola. Ela não entrava na minha cabeça, independente do que eu fizesse. A física me deu um namorado, mas nunca uma lição verdadeira sobre movimentos circulares. Comecei a pensar nisso. Será que a minha vida seria diferente se eu tivesse algum conhecimento avançado nisso? A resposta foi tão clara quanto a minha cor nessa semana corrida de provas da faculdade: não. 
Foi nesse mesmo dia que a física me deu um pé na bunda e uma lição clara de vida. Todos os nossos relacionamentos são movimentos. Um objeto em movimento tende a permanecer em movimento, a não ser que alguém aplique uma força sobre ele. E se todos os nossos relacionamentos fossem assim? E se fôssemos corpos em perfeita sincronia e bastasse um único empurrãozinho pra instaurar o caos? Um deslize que causava o fim de dois anos de perfeita sincronia. Não é sempre o que parece acontecer?
Alguns dias antes do incidente do taxista mão de vaca, saí pra dançar com uma galera que costumava andar comigo quando eu tinha idade o suficiente pra comprar bala sem pedir autorização da minha mãe. Conversa vai, papo vem, uma cerveja gelada aqui, outra ali, comecei a olhar pro meu primeiro namorado. Um carinha que, hoje em dia, era um dos meus melhores amigos, mas que antigamente, tinha chegado bem perto de ser o primeiro homem da minha vida. Comecei a pensar em como éramos pessoas diferentes agora, em como tínhamos perdido muito do que costumava ser parte da nossa essência. Na força que tinha sido aplicada sobre nós dois pra que nos desviássemos completamente um do outro. Pensei no quanto isso acontecia o tempo todo. No quanto nos perdíamos do nosso caminho pela pressão aplicada pelo destino.
Depois de beber muito, olhei pra ele no canto da mesa e perguntei:
- Você acha que as coisas teriam sido diferentes se a gente tivesse dado mais uma chance pra nós dois? - A princípio, ele riu. Depois de um tempo, o vi ficar sério e pensativo. Pensativo demais.
- Você já deixou de me amar? - Pronto. O caos estava instaurado. Depois de 3 anos separados. Tomei o restante da cerveja e olhei pra ele de novo.
Naquele momento, duas coisas me vieram à cabeça. Uma delas era que ele deveria mesmo mudar de perfume e a segunda era que ele continuava com o mesmo brilho idiota no olhar de quando o vi pela primeira vez, correndo como um desgovernado pelos pátios da escola.
O cara foi parar na minha casa, passamos uma noite hilária e muito gostosa juntos. Dei pra ele a primeira vez que nunca tivemos e foi como se não existisse mais nada além de nós dois no mundo.
Nos dias que se seguiram, a gente não fazia ideia de como lidar um com o outro. Tudo bem, eu tratava ele da forma como costumava ou mudava? Era pra ser carinhosa? Será que eu podia continuar ligando pra ele como se fôssemos só amigos? Eu fingia que não tinha rolado nada ou não? Ele não sabia se me cumprimentava com um beijo na boca ou dois nas bochechas. Não sabia se podia pegar a minha mão, ou se aquilo não era permitido. Força. Força aplicada em dois corpos que já não se chocavam há muito tempo.
Quando entrei no carro do taxista, tive um momento de luz. A força pode, sim, destruir. Pode, sim, alterar dois corpos em perfeita sincronia. Sabe o que mais ela pode fazer? Trazer estabilidade. Restaurar o que há muito, não funcionava mais. Ali, sentada, ouvindo um cara muito chato reclamar dos problemas que ele tinha com a mulher, percebi que, às vezes, a gente precisa deixar tudo nas mãos do destino. A gente precisar parar de forçar a barra, precisa parar de pressionar contra algo que já vem sendo pressionado do outro lado. Com a cabeça totalmente perdida em pensamentos, me dei conta de que duas forças de mesma intensidade, tornavam o corpo imóvel. Impossível de ser alterado. 
Já parou pra pensar em quantas vezes a gente força a barra? Em quantas vezes a gente perde aquilo que mais quer ter por não saber esperar o momento certo de tentar buscar? 
Quantas vezes a gente perde um amor pela pressa, quantas vezes a gente perde uma oportunidade pela ansiedade, quantas vezes a gente deixa de dizer eu te amo por orgulho, quantas vezes a gente aplica a força na direção oposta... 
Às vezes, é importante dar uma folga. Descansar. Parar de aplicar "empurrãozinhos" em pessoas que não querem mais se movimentar. Às vezes é importante deixar ir. Parar de lutar contra a força, quase violenta, que é o destino.
Naquele dia, saí do carro com várias coisas em mente, uma delas era que a física não era tão inútil assim, a outra coisa, só me dei conta quando o vi parado ali, no meio da rodoviária, com um sorriso bobo no rosto e os braços abertos pra me abraçar: a química também não era de se jogar fora...

3 comentários:

  1. Amei o texto :)

    http://agarotasecreta14.blogspot.com.br/

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  2. Apenas. Morta.
    hahahahahah
    sei nem o que dizer, por isso recolho-me à insignificância

    Parabéns.
    Muito 10 esse post

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