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terça-feira, 6 de novembro de 2012


Ele escondia de todas as maneiras possíveis o que sentia. Não conversa com ninguém, não tocava no nome dela e maldita era a pessoa que tentava fazer piadas sobre o assunto. O garoto era um daqueles doidos, doidos de pedra mesmo. Transava -sim, por que jamais fazia amor- com pelo menos três garotas por semana, e tinha todas as que queria aos seus pés, mas ainda assim, o buraco continuava ali. Vê-la, mesmo que dia sim, dia não, o fazia querer socar as paredes, quebrar algo, fazer uma loucura! Ela tinha que ser tão bonita? Tinha que ser tão alegre? Às vezes ele acordava um pouco inspirado e praticava durante algum tempo frente ao espelho o que poderia dizer à ela, mas essas eram raras exceções. Na maioria, ele acordava com um ódio tão profundo, que podia facilmente mandá-la se foder, caso decidisse cruzar seu caminho. Ele não conseguia entender, simplesmente não conseguia assimilar. Não sabia qual era o maldito feitiço que ela tinha jogado nele, se soubesse, nunca teria feito amor com ela -notam a diferença?-, ou talvez nunca a tivesse beijado, ou por Deus, talvez nunca sequer tivesse lhe dirigido a palavra! Os amigos a chamavam bruxa, nas poucas vezes em que conseguiam tocar no nome dela sem que ele os olhasse furiosamente, mas no fundo, ele só queria provar pra si mesmo, que conseguia brincar com ela da mesma forma que ela tinha feito com ele. Era enjoativo vê-la caminhando pelos corredores da escola como se tudo estivesse bem, como se fosse um anjo e com o mesmo olhar infantil de quem jamais machucaria alguém. Em horas como essa, ele se sentia um pouco humano, talvez se tivesse deixado levar muito facilmente, simplesmente se enganado com o que ela parecia ser, assim como muitos outros fizeram... Mas então por que, diabos, ela não saía da cabeça dele? Conseguia lembrar da forma como ela mexia incessantemente nos cabelos enquanto estudava, como se estivesse tentando se manter acordada, conseguia visualizar o rosto dela, em realce com a pouca luz da janela que saía do quarto dele, quando os dois passavam as tardes juntos e ainda, depois de tantos anos, conseguia se lembrar da forma como os lábios dela se movimentavam ao dizer "eu te amo". Pensava em si mesmo como um otário. Um babaca. E se usasse esse tipo de vocabulário, com certeza se acusaria de bastardo, errôneo. Mesmo com tudo, ela continuava ali, martelando, fazendo da vida dele um inferno ainda maior do quando se separaram. Mesmo que todos dissessem à ele que ela ainda falava nele como se falasse de uma ferida mal curada, ele sabia que era tudo mentira, que era o único que continuava alimentando aquilo dentro de si. Mas que diferença faria no final, se ninguém jamais ficaria sabendo? Talvez se ele mantivesse tudo no próprio subconsciente, algum dia pudesse lhe dar o troco. Da melhor forma que conhecia, e da melhor forma que lhe seria agradável.
O erro dela, era subestimar tudo o que dizia respeito à ele. Ele era mais inteligente e cafajeste do que parecia.

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