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sábado, 8 de março de 2014

Meu raio de sol

Lá fora chovia muito. Tentei olhar pra ela, mas ela não se movia, continuava com as duas mãos sobre o rosto, a maquiagem borrada me fez andar de um lado pro lado, ansioso pra que a tempestade passasse e fossemos finalmente libertados da angústia que se instalava naquele lugar. Rezei. Pedi a um deus, que nem mesmo acreditava existir, por um pouco de sossego. Nada. A chuva so parecia se tornar mais forte, mais feroz. 
Ela se levantou. Senti meu coração subir à garganta. 
Ela não disse uma palavra. Evitei olhá-la nos olhos, mas foi impossível. Ela sorriu de lado.
"Você não precisa sentir pena de mim", as palavras soaram carinhosas, mas dentro de mim, foram transformadas em facas afiadas e cobertas com as memórias mais intensas de nossos anos juntos. Torturante. Apavorador. Quis abraçá-la, mas sabia que se a tomasse nos braços, nunca mais a deixaria ir. 
Ela prendeu os cabelos num coque. Exatamente como fez na primeira vez em que a vi. Fascinado nos movimentos de suas mãos, ela riu, talvez se lembrando do nosso primeiro encontro, ou talvez achando graça da forma boba como ela mexia comigo.
Me senti como um adolescente de novo.
Queria toca-la.
Queria beija-la.
Queria invadi-la com o meu corpo.
Não me movi. 
Escondi o rosto, preocupado em não me deixar levar pelos seus encantos, preocupado em não me entregar a um romance que estava fadado a morrer. 
Ela tirou a blusa, escondendo o corpo de forma tímida, o corpo que eu sempre amei, aquele corpo que sempre admirei. 
"Você não precisa se esconder de mim", murmurei, mais inseguro do que jamais estive antes. Ela me olhou.
Foi a gota d'água. 
Nunca acreditei em destino. Em alma. Naquele momento, por um motivo que até hoje não entendo, tive certeza de que vi todas as cicatrizes da dela. De sua alma, quero dizer. Ela pareceu frágil. De uma maneira que nunca tinha visto antes.
Ela parecia vulnerável. 
A vi chorar e antes mesmo que pudesse pensar nas consequências das minhas ações, a tomei nos braços. 
Beijei sua testa fria, envolvendo seu corpo minúsculo e inalando o perfume dela como se fosse a ultima vez. Não era.
Nunca teria sido.
Eu nunca conseguiria abrir mão da menina dos meus olhos.
Ela era maluca. Completamente impulsiva. Do tipo que me enlouquecia até mesmo nos meus melhores dias. 
Mas ela era minha.
Ela tinha dentro de si, a coragem que faltava em mim, a alma que eu nunca tinha acreditado ter, e que se encaixava à minha nos ângulos mais distintos. 
Ali, perdidos no meio do nada, me dei conta de que estava diante do amor da minha vida e finalmente entendi o que significava amar alguém. Estar apaixonado não significava encontrar alguém que compreende quem você realmente é. Amar é mais do que isso. 
Ela era mais do que isso.
Amar, era desafiar, e ela me desafiava todos os dias.
Me desafiava a enfrentar os meus maiores medos e me ajudava a combate-los na nossa rotina insana.
Amar, pra ela, era abraçar a mudança, e quando esse furacão de garota decidiu ficar na minha vida, a abracei com a mesma paixão na qual ela tinha me abraçado durante o nosso primeiro beijo.
Até hoje, nos dia de chuva, me vejo correndo pelas ruas frente ao escritório, procurando por qualquer coisa que a faça sentir especial. 
Procurando por qualquer coisa que a lembre do dia chuvoso em que me rendi ao seu coração eloquente.
Qualquer coisa que a faça sorrir.
Que a faça querer me tocar.
Que a faça querer me beijar. 
Que a faça querer ser invadida pelo meu corpo.
E ela sorri. Da forma escandalosa e incrivelmente linda como sempre fez.
Dessa vez, agradeço ao deus, que nem mesmo acredito existir, por ter transformado aquela tempestade feroz, no único raio de sol que vive dentro do meu coração. 

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